A cidade do Porto, a partir de meados de século XVIII, vai subindo a encosta, galga a muralha e à cota alta vai conquistando o espaço vital onde vai surgir a moderna e burguesa cidade do Porto do século XIX.
“ Nesse percurso, complexo e não linear, vale a pena destacar três fases em que se evidenciaram mudanças decisivas no espaço urbano: o período dos Almadas, nas últimas décadas de século XVIII; a época da implantação do liberalismo (..) e a fase da industrialização e da revolução dos transportes, na segunda metade de oitocentos”1
A cidade liberal, capitalista e progressista implementa um vasto conjunto de intervenções urbanísticas, à luz das ideias da Modernidade em prática nas urbes da Europa. Das novas práticas de salubridade, ao loteamento e abertura de novas ruas, passando pelos jardins públicos, é essa a nova forma de usufruto do espaço público e de fruir a Cidade.
Em 1833 abre a Biblioteca Municipal do Porto, que terá como vizinho o Jardim público de São Lázaro o qual abre portas em 1834. A cidade recreia-se, mostra-se, nesse belo espaço de fruição e de lazer.
Os mercados de animais vivos são transferidos para a periferia indo de encontro às modernas práticas de salubridade.
Nesse movimento de modernização dos equipamentos da cidade nasce o mercado do Bolhão.
“É entre lameiros muito alagados, atravessados por um ribeiro que naquela zona formava um “bolhão de água”, que se idealiza a construção do mercado. O primeiro projeto data de 1837, da autoria do arquiteto Joaquim da Costa Lima Júnior: uma praça retangular, dividida internamente em quatro quarteirões, delimitados por árvores, com uma escadaria a Norte de ligação à Rua Fernandes Tomás.
O mercado começa a funcionar em 1839, com as obras a prolongarem-se por alguns anos e com sucessivos melhoramentos.
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Entretanto, Elísio de Melo apresenta, em abril de 1914, o projeto e orçamento do novo Mercado do Bolhão, da autoria do arquiteto António Correia da Silva, que contou com a colaboração de Carlos Barbosa, e que previa, por exemplo, uma cobertura em ferro e vidro sobre o espaço central, obra que nunca seria executada.
Optou-se, em 1924, um ano após a conclusão das obras do Mercado, por uma cobertura para a galeria interior, com intuito de compensar a ausência de uma cobertura integral e permitir a ocupação das galerias com pontos de venda.
Outra curiosidade: em 1939, os portões do mercado eram ainda em madeira.”
Do século XIX até ao tempo presente, o mercado foi cumprindo a sua função primordial, o abastecimento de produtos frescos à Cidade.
O agora renovado mercado, mantendo a sua traça identitária no uso dos materiais e linhas arquitetónicas, numa disposição contemporânea nas práticas comerciais, afirma-se definitivamente como um marco nos equipamentos públicos da cidade do século XXI.
– Artur Sousa
Pereira, Gaspar Martins – Do Porto dos Almadas ao Limiar do Século XX, Geografia do Porto,2020
Foto: Jornal de Notícias