“Família Campestre”- Eugénio Zampighi (1859-1944)
A mãe
– António Ferraz
Tu és ainda a mãe,
manténs o sorriso à entrada da porta
como se o dia
não vestisse de luto,
como se viesses libertar os meus lábios
de tantas mágoas indizíveis.
Chegas, debruçada na sombra da manhã,
e sentas-te,
inteiramente tu,
na mesma cadeira coçada já de tantos invernos…
E eu sirvo-te da mesma maneira,
nos mesmos talheres,
os meus olhos fixos nos teus olhos
azuis de tanto céu,
de tanta solidão.
Depois levantas-te, sossegadamente,
e eu vejo-te partir
sempre velada na sombra da manhã;
fico em silêncio olhando a porta
e ouvindo os teus passos que se vão,
leves como pássaros,
como a luz do sol a romper a noite…