-Etelvina S. Ferreira
Moro numa casa grande,
Percorro todos os quartos.
Nuns entra o sol da vida,
Noutros o som dos meus passos.
Nesses quartos habitados
Cheios de cor e beleza.
Por um entra a luz da lua,
Por outro entra a natureza.
Corro dum quarto para o outro.
Se num entra a poesia,
Veloz trazida pelo vento
Entra noutro a melodia.
Se num vejo o mar sereno,
Noutro um lago circular.
Nos dois ouço o mundo à volta
Num contínuo murmurejar.
Num deles guardo a esperança
Noutro, alegrias, amores.
Os dois têm chaves mestras,
Para evitar salteadores.
Num guardei meu coração
Que fechei a sete chaves.
O outro tem porta aberta
Pois não tem quaisquer entraves.
Em alguns vejo palavras
Que me levam ao passado,
Deixando entrar a tristeza
De tudo o que foi chorado.
Noutros entra a ventania
Que me leva para a frente
Sem pensar entro lá dentro
Arrastada pela corrente.
Em alguns entra a saudade.
Dos amores pela vida fora,
Que guardarei para sempre
Numa caixa de Pandora.
Este tem porta dourada
Onde guardo os sentimentos.
Rendilhada, em filigrana,
Deixa entrar os bons momentos.
Aquela, feita de ferro,
Da negrura do carvão,
Nunca a abri, não sei que tem,
Mas minha alma é que não!
Os sorrisos dos meus filhos
As brincadeiras dos netos
Tudo brilha como o sol,
Quarto pleno de afetos!
A negrura de alguns dias
Deixo entrar e fecho a porta,
Porque ao caminhar em frente
O passado já não importa.
Entrando num quarto e no outro
Prisioneira do espaço.
Ora rio à gargalhada,
Ou em lágrimas me desfaço.
Poema muito bonito. Parabéns