-Duarte Miranda
Recentemente surgiu a polémica da redução da remuneração dos Certificados de Aforro, com a emissão da série F (podendo atingir no máximo 2,5%) contra os 3,5% de máximo da série E.
Uma das razões faladas para esta alteração teria resultado da “pressão” dos Bancos para evitar saída de depósitos. Refira-se que, desde o início do ano os Certificados de Aforro aumentaram cerca de 7.000 milhões de euros. Ainda que não seja divulgado pelos bancos, é de admitir que o grosso destes fundos possam ter vindo de depósitos dos bancos, remunerados, até então, a pouco mais de 0%.
É verdade que a generalidade dos bancos têm excedente de liquidez, já que a taxa de transformação de depósitos em crédito está em cerca de 78% ( por cada 100 € de depósitos os bancos só emprestam 78,2 € em crédito).
O Rácio de Transformação (de Depósitos em Crédito) teve e seguinte evolução:
2018 |
2019 | 2020 | 2021 |
2022 |
89/% |
87,1% | 84,7/% | 81,1/% |
78,2/% |
Assim se compreende que os bancos não “sintam” necessidade de aumentar a taxa de juro dos depósitos.
Todavia a forte saída de depósitos nos meses mais recentes também afectam a dimensão de alguns bancos, bem como a sua reputação.
Um exemplo disso é o aumento da taxa de juro média para novos depósitos entre Dezembro de 2022 e Março de 2023:
Portugal |
União Europeia |
||
Dez. 2022 |
Março 2023 | Dez. 2022 |
Março 2023 |
0,36/% |
0,90/% | 1,44/% |
2,11/% |
Ainda assim a taxa de juros dos novos depósitos continua a ser bastante mais baixa em Portugal quando comparada com a média da União Europeia.
» Uma outra razão prende-se com a estratégia do Estado de reduzir os juros pagos pela dívida publica ( onde se incluem os Certificados de Aforro).
Nos últimos meses o spread da divida portuguesa face à divida alemã baixou de 100 pontos base( 1%) para 83 pontos base(0,83%). Isto apesar da divida, em valor, ter aumentado entre Dez.22 e Abr. 23 , cerca de 7.000 milhões de euros ( a que poderá não ser alheio o aumento da subscrição de Certificados de Aforro).
No quadro abaixo já se constata que a remuneração ( “JUROS”) da divida publica portuguesa é inferior a vários países e inferior à remuneração máxima dos Certificados de Aforro Série E (3,5%).
Remuneração (juros) da Dívida Pública:
Hungria |
Polónia | Espanha | Portugal |
Alemanha |
7,37/% |
5,97/% | 3,43/% | 3,11/% |
2,42/% |
Em 2022 o Estado pagou menos de 5.000 milhões de euros de juros, o que representa menos cerca de 10% face a 2021
» Acresce que os Certificados de Aforro podem ser movimentados ao fim de 3 meses, pelo se acontecer algo grave o Estado pode ver o valor dos Certificados reduzir drasticamente, em comparação com outros instrumentos de dívida (como Obrigações de Tesouro, a prazos mais longos).
» Há ainda quem defenda melhor remuneração dos Certificados de Aforro para estimular a poupança e minorar a perda real do valor das aplicações, em períodos inflacionistas ( como é o caso presente) e ainda porque mais divida interna diminui o risco de uma eventual pressão dos mercados (externos), detentores de dívida publica portuguesa.
» É verdade que melhor remuneração das poupanças pode estimular a sua criação/reforço. Mas o Estado tem hoje uma situação financeira mais estável face à crise de 2009, conforme abaixo.
* Em 2009 » cerca de 71% da dívida pública era detida por estrangeiros.
** Em 2021» cerca de 53% da dívida pública era detida pela União Europeia+ EuroSistema (nomeadamente BCE) e
** Em 2021» somente 18% detida por outros estrangeiros,
o que dá mais estabilidade às finanças públicas.
Assim o Estado está mais confortável em diversificar a sua dívida, fazendo reduzir os custos da mesma, como acima indicado, e de alguma forma justificando acabar com a Série E dos Certificados de Aforro, para poupar nos juros pagos.