– Artur Sousa
No ano de 1919, a carnificina da Grande Guerra havia terminado. Os Impérios deram lugar às Repúblicas. As mulheres lutam pela igualdade de direitos. A nova sociedade, nascida das cinzas do velho mundo, vibra com as mudanças que se instalam sucessivamente.
Os artistas, arquitetos e a nova classe de “designers” materializam no quotidiano das massas esse desejo de mudança.
Em 1919, nasce a Escola de Arte e Design Bauhaus, fundada pelo arquiteto alemão Walter Gropius. A escola, através da filosofia e da metodologia desenvolvidas pelos seus professores e estudantes, vai ter uma influência significativa na estética das artes, no pensar a arquitetura e na nova disciplina do “design” de equipamentos.
O movimento conceptual e estético da Bauhaus procurou, no desenho/projeto de cada novo objeto, combinar, da melhor maneira possível, a funcionalidade (a adequação com que os objetos cumprem as funções para que são fabricados) e a forma (a satisfação afetiva que o objeto oferece pelas suas qualidades estéticas). Uma das máximas que orientou muitos desenhadores Bauhaus foi o princípio minimalista de que “menos é mais”, expressão de Mies Van der Rohe, professor na escola e seu último diretor.
O desenho e o projeto modernistas têm a ambição de serem as melhores soluções possíveis: as mais económicas de produzir e de adquirir, as mais ergonómicas, as mais apelativas e satisfatórias para o maior número possível de pessoas – soluções totais, universais, modulares, produzidas em massa para satisfazer as necessidades dos consumidores no mercado.
“Até hoje, a Bauhaus continua sendo um dos movimentos de design mais influentes de todos os tempos, tendo casado o design funcional com o prazer estético para criar uma forma de arte moderna que pudesse trazer beleza aos objetos do dia a dia e muito mais”.(1)
Para garantir a universalidade dos seus projetos, os desenhadores Bauhaus passam, também, a valorizar a “verdade” no desenho dos objetos, que se traduz na transparência na qualidade dos seus materiais, na objetividade da sua funcionalidade e na rejeição de elementos obsoletos ou manipuladores/“falsos” (materiais de imitação, elementos estruturais supérfluos…).
Estes preceitos passaram a dominar a prática do “Design” e, a seu tempo, também foram adotados pelos desenhadores nacionais.
Incontáveis cidadãos lusos tiveram (ainda que inconscientemente) contacto com a “5008” (2), a “Gonçalo” ou, de entre outros tantos nomes, a “Cadeira Portuguesa”.
Já centenário, este modelo de cadeira de esplanada ocupa estabelecimentos de Norte a Sul do país e é um justo símbolo de ócio, tempo soalheiro e boa companhia. Mas, na sua forma simples, está comprovadamente estudada a adequada proporção, inclinação e sinuosidade para acomodar confortavelmente o potencial utilizador. Estão determinados os materiais mais resistentes ao uso e apropriados ao processo de fabrico de inúmeras cópias exatas, para equipar novos espaços. A estrutura tubular de aço curvado, em que braços e pernas definem o contorno da peça completa e representam toda a estrutura que a sustenta, é de elegância discreta, sem nada de opulento, obsoleto ou acessório – “menos é mais”.
É na resposta a todas estas preocupações, tal como ensina a metodologia Bauhaus, que o desenho da 5008 se tornou emblemático e o/a leitor(a) pode, inclusivamente, até estar, neste momento, sentado num destes modelos icónicos da nossa paisagem moderna.
Bibliografia : (1)-)oitentaeoito.net
(2)-Adico.pt