– Artur Sousa
A Revolução Industrial, alimentada pela energia do vapor, ia transformando a paisagem do país. “Em 14 de Outubro de 1820, chegou a Lisboa o navio Conde de Palmela, o primeiro vapor a navegar com pavilhão português”. (1)
Finda a guerra civil, depois do ano de 1835, a “nova energia” é timidamente aplicada à indústria transformadora. A partir de 1850 dá-se um forte impulso no fomento industrial de norte a sul da Ocidental Praia.
Em 1852, segundo o Inquérito Industrial, existiriam então 70 máquinas a vapor implantadas em vários distritos do país, no qual as terras de paisagem bucólica e ribeirinha como Lever e Crestuma passam a ser morada de modernas fábricas.
Nessa década é criada a Companhia de Fiação de Crestuma.
Na encosta bordejada pelo rio Uíma, durante 125 anos, ao soar do “apito”, colocavam-se em marcha os teares, as bobinadeiras, os fusos, os torcedores… Eram às centenas os tecelões e as tecedeiras que diariamente laboravam, transformando a rama de algodão num tecido que iria agasalhar os corpos.
Onde outrora reinavam os fabrís ruídos e a azáfama laboral, hoje reina no silêncio.
Até que novas obras, em vez de serem produzidas, são dadas a conhecer neste espaço reapropriado e insuflado de nova vida, acolhendo-se nestas instalações a Bienal Internacional de Arte de Gaia. As formas, as cores, a imaginação de escultores, pintores, fotógrafos, enfim, artistas e as suas propostas, engalanam o vale, concorrendo com o correr das águas do Uíma.
CFC, uma empresa com 125 anos de história.
Nasceu em tempo de monarquia constitucional, acompanhou o nascimento da Primeira República, cresceu com o Estado Novo e não sobreviveu à Democracia.
Começou a sua longa existência em 1854 “…e após 125 anos de laboração o “apito tocou” pela última vez para os operários da Companhia de Fiação de Crestuma, a 30 de Junho de 1979.” (2)
O atual proprietário, Dr. Ricardo Haddad, cidadão brasileiro, enamorou-se pelo espaço natural e industrial. Tem vindo com enorme persistência a recuperar paulatinamente muitos dos edifícios do complexo fabril.
É neste edificado agora restaurado que, com regularidade, se instalará durante os próximos meses a 5° Bienal Internacional de Arte de Gaia.
A edição deste ano abriu portas neste belo dia de Primavera e decorrerá até ao dia 8 de Julho.
Num espaço dotado de elevado valor como património industrial foi possível dar-lhe uma nova vida, colocando-o agora como espaço expositivo das Artes Plásticas.
Durante os próximos meses, com entrada livre, este centenário espaço será um local de excelência para usufruir de uma viagem no tempo, na companhia dos mundos imaginados por dezenas de artistas protegidos pelas paredes que guardam as memórias desta, como nos revela a Dra. Fátima Teixeira ” colónia industrial”
(1) – marinha.pt
( 2) -Teixeira, Maria de Fátima – Companhia de Fiação de Crestuma: do fio ao pavio, 2017