-Artur Sousa
O aeroporto cuidadosamente escolhido e longe dos olhares indiscretos da imprensa. A pacatez da terra, a ausência de tráfego aéreo, afigurava-se uma boa escolha, Beja.
Pelo insólito, pilotos e os raros funcionários ali presentes estranharam a presença simultânea daquelas figuras públicas.
Luís Montenegro e Ventura aperaltados com a farda habitual da função. Nuno Melo, apesar do fardamento de calça e casaco, primava pela ausência da gravata, com a camisa fechada apenas no terceiro botão, a exibir a farta penugem numa pose marialva, acentuada pelos brancos cabelos que muito alegram ao género feminino, bem como a uma margem do género masculino.
Estranho, muito estranho, era ver ali aquela bela miúda de ar franzino, cabelo preto, de bom corte, enfiada numas coçadas calças de ganga, calçando uns ténis brancos. Se a indumentária destoa da restante comitiva, mais estranho é Mariana Mortágua fazer parte daquela restrita lista de passageiros, num voo Beja – Atenas e regresso lá pela noitinha.
Três horas depois, na tranquilidade de um voo no pássaro de fogo, eis que a comitiva já se encontra no santuário de Delfos, um dos mais significativos lugares da Hélade.
Apesar da pouca afluência em dias de semana, prevenido o oráculo da chegada de tão ilustres figuras, a azáfama nos preparativos tinha ocupado as poucas horas desde que tinham sido avisados por Alexis Tzipras, ex. Primeiro ministro grego, que havia pouco tempo quase punha a andar pelo próprio pé (quem o não fazia havia anos) o ao tempo Ministro das Finanças alemão e desde então amigo de Mariana.
Tzipras, aquando do interesse manifestado por Mortágua, a tinha tentado dissuadir alegando que, quando em funções, tinha recorrido aos serviços do oráculo com a mesma dúvida e a resposta tinha sido um fiasco. Aliás, acusava mesmo as sacerdotisas da sua derrota eleitoral. Ao qual Mortágua lhe terá respondido com um verso de Camões
– Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
À hora aprazada era dado início à performance metafísica e artística. As sacerdotisas, emborcavam grandes quantidades de estranhas bebidas, fumavam e dançavam. O ar tornava-se quase irrespirável tal a quantidade de fumo.
Os quatro ilustres tugas aguardavam de olhos esbugalhados de admiração e suspense tudo quanto viam o ouviam.
Durante a viagem, depois de uma acalorada discussão tinha sido decidido ser Montenegro o portador da pergunta.
Conforme o já acordado a sacerdotisa chefe dirige-se a Montenegro:
– Que queres saber homem da Ocidental Praia?
Montenegro no seu peculiar jeito de nem sim nem não e na melosa voz lá acabou por dizer ao que vinha, não sem antes quase perturbar a performance pelo entediante tempo que havia decorrido nos salamaleques – Sr. Dr., Sr. Prof., Suas Ex…
E lá diz ele.
– Sacerdotisa, sabendo eu e os meus parceiros ser irreal aumentar salários a todos os funcionários públicos, baixar todos os impostos e ainda investir nos serviços públicos, se tal prometermos, acreditarão em nós os eleitores?
As sacerdotisas aceleraram o ritmo da performance, luz e fumos iam ocupando o espaço e eis que uma voz emitia a resposta tão desejada.
– grun raque ohoh protennnn rahaaa zun trand rantrammm pemm…
Ventura, sempre nervoso e frenético gritava
– Quem de vós sabe grego e, entretanto, já a manipular o seu telemóvel em busca do Google tradutor. Nuno Nelo acusava os Socialistas pela falta de condições de trabalho das sacerdotisas.
Mortágua, desesperada tentava falar com Louçã, e nada.
A partir deste momento o “garganta funda” que detalhou o acontecimento perdeu de vista os protagonistas desta estória. Dias mais tarde, encontrou a sua amiga Belinha, que teria sido a hospedeira naquele secreto voo. Disse-lhe que os hurras acompanhados pelo regular abastecimento de champanhe foram uma constante da viagem.
Mas, afinal qual terá sido a resposta?