ESPANHA – A DITADURA DE PRIMO DE RIVERA
-Carlos Ferreira
“A história não é o conflito de classes
nem das Nações, em geral é rica de incontáveis
tipos de conflitos e matrizes culturais”[1]
É bastante comum a sociedade ter tendência para as memórias a curto prazo. Praticamente todas as pessoas conhecem, ou pelo menos ouviram falar de Francisco Franco (1892-1975) como o Caudilho ou Generalíssimo que governou Espanha em regime de ditadura, de 1936 a 1975, quando entregou novamente o poder de “governar” à casa real dos Bourbon, Rei Juan Carlos.
Mas a Espanha conheceu um outro ditador, Miguel Primo de Rivera y Orbaneja (1870-1930), fundador da Liga ou União Patriótica que na patente de Capitão General e Marquês de Estella e Ajdir promoveu um golpe de estado para salvação da Espanha, ficando conhecido para a história como a ditadura de Primo de Rivera de 1923 até 1930. Rivera, imbuído de ideais militaristas, marcadamente nacionalistas e autoritários suspende a constituição, dissolve o parlamento e limita os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos concentrando em si mesmo os poderes para governar. O golpe, que de acordo com alguma historiografia encontrou a conivência do Rei de Espanha Afonso XIII (1886-1941) e a aquiescência de boa parte do patronato, do clero, das forças armadas e dos meios mais conservadores da sociedade espanhola. A primeira Guerra Mundial tinha terminado em 1918, o Tratado de Versalhes é assinado e retificado em junho de 1919. Para Espanha, apesar de se manter neutra em oposição a Portugal[2], durante todo o conflito, este teve importantes consequências económicas, sociais e políticas tanto assim que se costuma situar nos anos de guerra os eventos que têm lugar em Espanha liderados por Rivera. O exército espanhol mantinha um pessimismo de décadas sobre o seu próprio papel na história recente da Espanha. Por um lado, o sentimento negativo permanente da sociedade que aspirava a uma vida com futuro, e por outro, a guerra em Marrocos que era pontuada pelo agravar do conflito. A situação externa em termos miliares obteve alguns sucessos posteriores ao desastre de Annual[3] e Rivera sentia a necessidade de ter um exército satisfeito tendo nomeado e promovido ao posto de General alguns oficiais superiores. A economia apesar de algum sucesso no início da sublevação cedo encontrou dificuldades nos mercados internacionais. A Europa[4] está a mudar de forma radical. Rivera é um crítico assertivo das democracias liberais. Na Alemanha é fundado o partido nazi em 1920, o fascismo é implementado em Itália, 1922, e em Portugal, no mês de maio de 1926, um golpe de estado põe fim à 1ª República. Apesar dos esforços de Primo de Rivera e da sua União, da regeneração e do progresso da economia e das infraestruturas, a ditadura foi incapaz de estabilizar a situação política, social e financeira durante o seu período, mas no final ocorreu uma crise política interna e externa que desprestigiou o rei Afonso XIII[5] o qual parte para o exilio em 1931. Mas é a Grande Depressão[6] que apressa o fim da ditadura de Primo de Rivera e a ascensão de Francisco Franco como fundador de um “estado novo”, em Espanha, que teve a sua duração desde 1936 até 1975.
[1] GELLNER, Ernest- Dos Nacionalismos, pág. 226
[2] CARVALHO, Manuel- A guerra que Portugal quis esquecer. Porto Editora 2015
[3] Batalha entre o exército espanhol em Marrocos e combatentes da região do Riff entre 22 de Julho e 09 de Agosto de 1921.
[4] História Geral da Europa- Volume 3: Publicações Europa-América, pág. 385 a 396.
[5] O seu sucessor natural seria João de Bourbon, Conde de Barcelona e pai do rei emérito Juan Carlos, se fosse rei de Espanha seria coroado como João III.
[6] A Grande Depressão- A bolsa de Nova York em 1929 sofre um colapso precipitando grandes conflitos económicos e financeiros praticamente em todo o Mundo.