-Etelvina S. Ferreira
«… julgo que a poesia tem, também, a obrigação de palpar o mundo, de estar atenta aos sintomas e ajudar ao diagnóstico.» — Joaquim Pessoa,
Joaquim Maria Pessoa ( Barreiro, 22 de fevereiro de 1948), conhecido por Joaquim Pessoa, é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica.
Iniciou a sua carreira em “O Juvenil”, suplemento literário do jornal “Diário de Lisboa” dirigido por Mário Castrim e Alice Vieira) . O seu primeiro livro ,O Pássaro no Espelho, foi editado em 1975 e até hoje publicou mais de três dezenas de obras, incluindo três antologias. Foi galardoado com o mais importante prémio português de poesia – o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura – e ainda com o Prémio de Literatura António Nobre e com o Prémio Cidade de Almada.
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Ícaro
A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.
Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia…
Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor…
E eu levantei a face, a tremer todo:
Jesus! Ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo.
Poema muito bonito. Boa escolha