O desabrochar de abril
– Etelvina S. Ferreira
Era o inverno dentro do homem, mas brevemente chegariam as águas de março para lavar as mágoas e preencher os sonhos. Ao longe já se ouvia o tropel de abril a cavalgar nos rumores do tempo.
Foi então que toda a natureza, a terra e a mente, se conjugaram para libertar o gelo no coração dos homens deixando crescer os brotos da vida que, entretanto, germinariam na estufa dos sonhos para romperem a qualquer instante em direção ao sol da liberdade.
E eis que chega abril e com ele a esperança disseminada na brisa fresca que então se fazia sentir, um abril sonhado desde tempos imemoriais, um abril da cor da liberdade e da igualdade.
A liberdade continuava ainda aprisionada pelas convenções, presa ao poder e à maldade, mas brevemente a esperança seria a sua salvação.
E esse dia finalmente chegou, perto do final de abril.
Os homens acordaram daquele triste inverno, desabrocharam em flores coloridas, uniram-se, deram as mãos e transformaram-se em poder.
A liberdade soltou-se das amarras que então a prendiam, cavalgou para bem longe em direção às estrelas que anunciavam a boa nova a todo o mundo. O sol iniciou a sua viagem diária, iluminou o coração dos homens e estes rapidamente se uniram em defesa da liberdade e da igualdade.
Enquanto o inverno sombrio e as águas de março se transformavam em memória distante, o brilho de abril iluminava o horizonte com a promessa de um novo começo. E o milagre da boa vontade dos homens seguia em linha reta, sempre a perseguir a linha do infinito, porque os sonhos de todos os homens se transformaram numa pesada pedra, assente numa base bem firme, a rolar numa estrada segura e carinhosamente construída pelas vontades que habitavam a alma do povo.
Viva a Liberdade, a Igualdade, a Paz e a Justiça, mas também a Fraternidade que abril nos trouxe no meio do esforço e da dor, mas também do amor.