O papel do povo numa revolução – os verdadeiros heróis

Uma revolução faz-se de luta, suor e lágrimas. O 25 de Abril de 1974, a “Revolução dos Cravos”, cravos cujas pétalas representam o povo anónimo e sofredor, não fugiu à regra.

São conhecidas hoje muitas personagens, sempre as mesmas, que brilham nas luzes da ribalta quando se fazem as comemorações do 25 de Abril.

Porque não lembrar também tantas figuras, heróis, que por trás desta máquina enaltecida, a quem não devemos tirar o mérito, sofreram na pele as agruras dos castigos físicos e psicológicos e até da própria morte?

Uma revolução não nasce de um dia para o outro. Antecedem-na anos e anos de sofrimento, de vidas perdidas, abnegadas, cuja consequência final é a mudança dum regime do qual a morte já vem sendo anunciada há muito tempo.

Neste sentido homenagear estes heróis do povo é nosso dever, já que a história por vezes tem memória curta. Descrever um deles será talvez recordar outros, muitos outros, que a vida reduziu ao anonimato.

Um homem do povo, com a escolaridade básica, trabalhador da indústria têxtil, mas com uma cultura acima da média, uma visão clara e sobretudo com um amor ao próximo incomensurável.

Trabalhou sempre em benefício do povo, por vezes incompreendido e em condições adversas na clandestinidade, sem se dar por vencido. Defendeu inúmeras vezes os direitos dos seus conterrâneos, sempre ativo e na linha da frente, numa altura em que abrir a boca era já de si um crime.

Foi preso várias vezes pela PIDE, algumas delas apenas para não poder participar em manifestações que se avizinhavam, já que representava um perigo para os ideais salazaristas. Sofreu castigos físicos e psicológicos vários, viu a sua família ser pressionada e injuriada e assistiu até a represálias que lhe faziam doer a alma. No entanto a sua força interior nunca o deixava vacilar e quando era libertado voltava às mesmas atividades porque o seu País e o seu povo estavam acima de tudo, até da própria morte.

Lutou pelos direitos dos trabalhadores na saúde, no emprego e até no seio da família. Tirou famílias da miséria antes e depois do 25 de Abril enfrentando os poderosos sempre com um espírito vivo e audaz que lhe permitia ter um conhecimento profundo das leis, desconhecer o medo e colocar a sua vida ao serviço dos outros.

David Rodrigues (1913-2000), pois é deste homem que estamos a falar, um gondomarense de gema, foi poeta na escrita e na alma. Um sonhador que teve a felicidade de ver escapar à prisão trinta dos seus conterrâneos na véspera da revolução e cuja obra acabada teve o poder de comtemplar – A Revolução do 25 de Abril.

Etelvina Ferreira, abril de 2019.

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