Os grãos de areia da nossa pegada.

 Os grãos de areia da nossa pegada.

– Lino de Castro

Vários estudos efetuados apontam para a convergência de que ao longo da vida produzimos (produziremos) cerca de 135 quilos de carbono por cabeça, apenas a partir do envio de e-mails (correio eletrónico). Um IPAD emite algo semelhante em … três anos, enquanto a Netflix gera mais de quatro toneladas por … minuto. Sabe o leitor qual é a pegada de carbono dos seus passos online, no universo das novas tecnologias, de uso tão comum nos dias que correm?

Vejamos e analisemos algumas das práticas ou (já) hábitos do nosso dia a dia. Na música, por exemplo, a pegada de carbono dos amantes dela nunca foi tão elevada como é hoje. Um estudo de 2019 realizado pelas Universidades de Glasgow e de Oslo, analisou o impacto ambiental da audição de canções em streaming. Comparativamente, tal audição online representa hoje em dia o dobro da emissão de gases com efeito de estufa da emitida há vinte anos no fabrico de CDs e discos de vinil – 350 milhões de quilos de CO2 (dióxido de carbono), só nos EUA. Mais: se ouvir em modo streaming o seu álbum musical preferido 27 vezes, irá consumir igual quantidade de energia que aquela que gastaria se optasse por ouvir em CD o mesmo álbum. Isto significa que se será mais amigo do ambiente se se comprar aquele álbum preferido em suporte físico, se é intenção ouvi-lo muitas (mais que 27) vezes.

No vídeo. Em apenas meia hora a ver um vídeo, emitimos 1,6 kg de carbono. De acordo com um estudo da CISCO, 80% do fluxo de dados na Internet é ocupado pela visualização de vídeo, o que representou mais de 300 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2019. Na mesma linha de investigação, o relatório Climate Crisis confirmou os dados da CISCO, afirmando que os sites de streaming consubstanciam o maior volume de tráfego da Internet, liderando a tabela a Netflix.

No mundo dos jogos de vídeo, estudiosos americanos concluíram que no ano passado (2022) a utilização deles deixou um rasto de 24 megatoneladas de dióxido de carbono – só nos EUA, o que equivale a mais do que o total das emissões, somadas, de CO2 por ano de países como a Estónia, o Líbano e o Sri Lanka. Outros dados, publicados por um jornal americano de jogos de computador, mostram que os jogadores de vídeo utilizam 2,5 vezes (mais) a quantidade de eletricidade consumida numa casa. E se jogado na nuvem, em fluxo contínuo, aquele consumo de energia vê-se multiplicado.

Nos meios de comunicação social, vulgo: redes sociais, o utilizador médio do Facebook – e apenas tomando como exemplo esta plataforma – produz à volta de 300 gramas de CO2 por ano. É uma pequena quantidade, semelhante a fazer seis fatias de torradas na torradeira. O problema, contudo, é que aquela plataforma tem mais de dois mil milhões de utilizadores. É só fazer as contas: Seiscentos milhões de quilos! Fazendo analogia: tal quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, mas não somente nela, corresponde aproximadamente ao peso, ao nível do solo, de mais ou menos seiscentos mil automóveis (cerca de oito por cento dos que circulam nas estradas nacionais). Ou, em outra relação, ou perspetiva: um em cada doze automóveis será um monte de lixo (em putrefação), lixo em “modo” de dióxido de carbono, gás com efeito de estufa (em químio-biorreação) pesando cerca de uma tonelada – a cada ano volvido. Isto repete-se, referindo-nos e contabilizando apenas o/a Facebook (prestes a completar vinte anos de existência), não às demais redes. E várias são elas.

Todos, ou quase todos, estamos conscientes disto, da poluição que o ser humano causa ou provoca no seu próprio meio ambiente, na sua casa, cidade e ambiente comum. Muitos protestam, jovens e não jovens, contra estes factos, comprovados pela investigação, pela ciência em 2022; e também ontem e novamente hoje. Jovens e já não jovens, todos adultos afinal, quantos de nós reclamamos contra os Governos, coloquialmente, nas ruas, em manifestações públicas, nos Media, etc.: todos. Ou quase todos. Mas, será que no quotidiano das nossas vidas particulares não abusamos, não usamos em excesso os recursos ou utensílios materiais de que dispomos, ferindo o ar, a atmosfera da nossa casa, e consequentemente dia após dia, adoecendo a envoltura dela, o seu ambiente circundante (troposfera), cujas margens se enredam com a igual envolvente da casa do vizinho, e as destas duas se enrodilham com a de outra casa, e outra, e outras, com a cidade, com o Continente, com a nossa Casa-Mãe? Não, não abusamos? Quem de nós sabe, garante?

Fonte: Revista Superinteressante, abril 2023

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