PALAVRAS

-Milú Almeida – 2023

PALAVRAS

As palavras saíram assim, aos pedaços …

Aflitivas e jubilosas, fracas e fortes,

entrelaçadas de negações e altos sins.

Fecho os olhos para as apanhar.

Estou sozinha,

o esforço é todo meu!

Elevo os braços para abraçar o vento,

cruzado e forte,

que corre nesta montanha russa,

que me põe tonta, mas atiçada.

Procuro fantasias, um circo de cores e alegrias,

capaz de desfazer dúvidas, desprezar questões,

diluir o veneno da raiva que corrói

e conseguir a justiça suplicada,

que traga a tranquilidade essencial

para esta nova partida,

esta nova luta sem reservas, mas tão recheada delas …

Forço-me a estar aberta a sugestões,

a uma aprendizagem contínua,

tremelicando como criança que desperta

e sente o aperto de saber e não saber,

de ser e de não ser

de não saber se vai ser capaz …

Transformo a mente numa muralha,

o que exige um treino intenso e frio,

para fazer face a acessos restritos e difíceis,

ficheiros secretos e dilacerantes,

promessas por cumprir,

mágoas que resultam de julgamentos errados

ou esquecimentos imperdoáveis,

desejos que se anseiam alcançar …

Há um querer ser diferente entre os iguais,

importante, absorvente, aceite e inesquecível,

dona de um saber único,

que se serve apenas a paladares aguçados,

sem causar inveja ou más emoções;

ser um campo de sonhos hilariante,

mato de consciência desperta e inquieta,

cristal brilhante, música de carrocel antigo,

perfume de aroma novo,

amor frágil e precioso,

alegria de paixão partilhada.

Procuro a luz,

essa luz de presença mágica

que reúne toda a nossa vida em simples segundos

e faz de mim mais uma crente …

Quero esquecer e perdoar,

quero acreditar e prosseguir em passos firmes

contra as tempestades do deserto,

ou as bofetadas da multidão.

Debato-me na dualidade das sensações,

vibro e denuncio-me a mim mesma

e, por isso,

as palavras saíram-me aos pedaços …

 

 

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