Poeta

POETA

Milú Almeida (outubro/2023)

Quando há mil sonhos vergados sob a estrelas,

umas mãos que falam sua trajetória e afetos,

energia numa alma perdida,

vivências, ilusões, alquimia,

heranças de um deus perseguido,

correr de gazelas, uivar de raiva ou lamento,

pensamentos que chispam

ou discretas emoções de amor

que permitem ver lá longe, bailar e ir às nuvens,

nasce o poeta …

Nasce quando a noite é um sopro,

o piano para de gemer,

quando há uma nuvem cavalgante no sol exposto,

um odor de orvalho matinal,

um sobressalto estremunhado,

venenos que povoam narrativas,

quando há vidas hilariantes descarriladas,

veleidades frágeis como o vidro,

pedaços de chão calcados por sapato roto,

ou frases viradas do avesso.

Poeta é um ser que gesticula com as palavras,

uma voz de trovão num devaneio silencioso,

a metamorfose duma alma que pena,

um lírico romântico,

um pregoeiro hipnotizado e tonto

esbardalhado num suspiro.

O poeta traz a marca do novo

quando tudo é repetitivo,

com um renascer consciente e sintonizado,

depois de uma noite de insónia,

um destilar entorpecido

de vitalidade sonhadora,

embrulhada em palavras fêmeas

que povoam a liberdade que procuras.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *