A propósito de um documentário que passou esta semana na RTP2, lembrei-me de uma notícia que tinha lido há muito tempo atrás.
Como todos sabemos, a história está sempre a ser actualizada, devido à construção de interpretações possíveis diante das evidências disponíveis e dos questionamentos marcados pelo contexto e pela formação pessoal do historiador.
Segundo Plínio, o Jovem, em poucos minutos, na ensolarada manhã do dia 24 de agosto de 79 d.C, Pompeia, na Itália, ficou mergulhada em noite escura. Em 19 horas, o vulcão Vesúvio matou 16 mil pessoas. Uma chuva de cinza e rochas soterrou a cidade.
Havia, no entanto, dois fatos que intrigavam os historiadores:
a) as vítimas encontradas usavam roupas quentes;
b) encontraram-se grandes quantidades de sementes de romã, fruto que só amadurece entre Outubro e Janeiro.
Agora, escavações recentes trazem novidades sobre a catástrofe.
Como é sabido os romanos tinham por hábito escrever sobre o quotidiano e o registo em carvão vegetal, deixado na parede de uma casa que estava a ser reformada por um antigo trabalhador, foi agora encontrado pelos arqueólogos. Este registo refere “16 dias antes das calendas de novembro” (calendas refere-se ao primeiro dia do mês) o que quer dizer que teria sido gravado a meio do mês de outubro, antes da erupção do vulcão.
É preciso esclarecer que esta gravação, em carvão vegetal, teria uma duração máxima de oito dias, numa situação normal, ao ar livre. Apenas foi conservada porque foi coberta pelas cinzas do vulcão.
Como a interpretação moderna dos relatos de Plínio foi baseada em traduções e transcrições feitas ao longo do tempo, que citam datas diferentes entre agosto e novembro, é possível que tenham havido erros responsáveis pelo equívoco da data estabelecida pelos historiadores – 16 de Agosto, 79 d.C.
A descoberta foi qualificada “extraordinária” pelo ministro italiano da Cultura, Alberto Bonisoli que disse: “Hoje, com muita humildade, talvez reescrevamos os livros de história, porque datamos a erupção na segunda metade de outubro.
Fonte: Jornal La Repubblica de 16/10/2018
– Etelvina Ferreira