A música é uma forma de libertar o espírito, afastar sentimentos negativos,
aprender idiomas e muito mais. Como expressão artística, a música tem as
mais variadas formas de interpretação.
Lembro-me de andar muitas vezes a cantar. O pai incutiu-nos o gosto pela
música e tenho mesmo a ideia que ele passava os dias a cantarolar as
canções tradicionais e os hits da altura passados na rádio. Havia um programa
com horas e dias certos, que se chamava “discos pedidos”, que ouvia sempre.
Aprendi, desta forma, as canções da moda. O Festival da Canção era, também,
um grande marco, já para não falar na Eurovisão. Eram horas e horas em
frente ao ecrã, à espera do anúncio dos vencedores. Nos dias seguintes, as
músicas vencedoras passavam uma série de vezes na rádio e ficavam no
ouvido.
Durante muitos anos não fui muito apreciadora de fado. Gostava da música
ligeira portuguesa e estrangeira. A portuguesa era fácil, mas as estrangeiras
eram, na altura, um mundo de palavras desconhecidas. Fixava a melodia,
inventava a letra e, no fim, tudo batia certo. Em cima de uma cadeira na sala de
jantar, cantava até à exaustão a canção “Óculos de Sol”, um grande êxito da
Natércia Barreto de 1968, a “Puppet on a String” da Sandie Shaw, vencedora
do festival da Eurovisão em 1967, ou na versão portuguesa da Simone de
Oliveira “Marionete”, o “Yellow Submarine” dos Beatles, de 1966, cantada por
Ringo Star, o baterista, por influência do meu primo Nelito, grande fã de Ringo,
“ Wouldn't it Be Nice“ dos Beach Boys, e “Sweet Caroline “de Neil Diamond.
Todas estas canções, cujo refrão é fácil de decorar e o ritmo ficava no ouvido,
davam-me alento para cantar.
Naquela altura, antes do 25 de Abril, o panorama musical era dominado pelo
chamado nacional-cançonetismo, promovido e apoiado pelo poder político, e
cujos expoentes máximos nos anos sessenta eram António Calvário, Simone
de Oliveira, Madalena Iglésias, Artur Garcia, Maria de Lourdes Resende e pelo
Fado.
Em termos musicais, os grandes acontecimentos anuais eram o Festival da
Canção e o Festival da Eurovisão, que mobilizavam o país inteiro para junto
dos ecrãs da televisão. Havia, também, os chamados cantores de intervenção,
praticamente marginalizados, proibidos de atuar publicamente ou editar discos,
e cuja música não passava nas rádios. Para as elites, com poder económico,
havia a chamada música erudita. O rock and roll era tido como música
subversiva e conotada com o consumo de drogas.
Com o 25 de Abril todo este panorama se alterou, com a abertura ao exterior e
a possibilidade de aceder a géneros musicais de outros países e culturas. Só a
partir de então foi possível assistir a concertos e ouvir a música de nomes já
consagrados e com alguns anos de carreira.
Como é evidente, as vivências e os gostos das pessoas de determinadas
gerações influenciam e são influenciadas pelas pessoas de uma outra geração.
Dessa forma, também eu recebi influências dos familiares mais velhos e, mais
tarde, do meu marido, que era um profundo conhecedor dos mais diversos
tipos de música, e também dos meus filhos que me deram a conhecer alguns
grupos musicais como os Keane, ou Benjamin Clementine, entre outros.
Felizmente, tive a possibilidade de assistir a muitos concertos, mas o que mais
me marcou foi o dos Rolling Stones, em 2006, no Estádio do Dragão. Um
concerto fantástico e inesquecível.
No início dos anos 80, comprei o meu primeiro aparelho reprodutor, um
Walkman. Pequeno, portátil, permitia-me ouvir música em todo o lado. Foi meu
companheiro em muitas viagens. Quem tinha gira discos gravava as músicas
para as cassetes, e assim tornava-se fácil aceder a vários tipos de músicas e
de diferentes grupos.
Os críticos cá de casa dizem que canto mal, e é verdade, mas gosto de cantar
apesar de continuar a trocar as letras e a acelerar o ritmo. Não me preocupo
com nada disso. Evidentemente, tenho o meu gosto pessoal e não abdico dele.
Mas música é música e dá sempre para cantar. A par de tudo isto e como
sempre gostei de cinema, as bandas sonoras também são um grande incentivo
ao gosto pela música. Só não gosto de Heavy Metal e de Punk Rock.
Na série televisiva “Conta-me como foi”, para além de me identificar com toda a
trama, o Carlitos levou-me aos lugares mais recônditos da minha memória.
Exatamente com a mesma idade que eu, tive a sensação que estava na minha
feliz infância. Até as músicas eram as mesmas. Não perdi um episódio e queria
ver mais e mais.
Na cozinha tenho um rádio sintonizado na TSF, que de certa forma substitui a
televisão (não tenho paciência para ver notícias repetidas vezes sem conta, até
à exaustão), mas depois de ouvir 2 noticiários passo a emissão para a M80.
Detesto passar roupa a ferro, por isso esta tarefa é sempre acompanhada
pelas músicas que previamente seleciono e canto.
É também através da música que tenho uma forma de lidar com os dias menos
bons. Umas canções mais tristes e outras mais alegres, são um verdadeiro
antidepressivo. Confesso que o meu grupo português de eleição é, sem dúvida,
os GNR. Adoro o carismático Reininho, a sua irreverência e forma de estar em
palco que não mudou ao longo dos anos. Assisti a vários concertos do grupo.
O primeiro concerto ao vivo foi na praia de Valadares, nos finais dos anos 80. O
último, em outubro de 2022, no Super Bock Arena, no Porto.
– Vai mãe, gostas tanto do Reininho, faz-te bem!
Em encontros familiares mais populares, há quem se lembre:
– Tia, lembras-te quando estávamos sempre a cantar as músicas das Doce? diz
a minha querida sobrinha mais velha.
– Claro que sim!
E, como se tivesse sido ontem, lá começamos “Amanhã de manhã, vamos
acordar e ficar a ouvir …”
– Lá estão elas… que piroso!
Cá em casa todos gostam de música, mas de facto o rock é comum a todos.
Com fones, sem fones, ouvir música está no sangue da família. O elemento
mais novo, desde sempre que reage e interage com a música. Gosta imenso
de cantar, faz coro, é uma alegria. Olhando para ele revejo-me em criança,
sempre alegre e a cantar. Meu querido Manuel, faço votos que mantenhas essa
tua alegria e o coração doce.
Esta semana morreu a francesa Françoise Hardy, um marco do yé-yé da
juventude dos anos 60/70, com o hit “Tous les Garçons et Les Filles”. Com uma
carreira marcada por uma sensibilidade musical, Françoise Madeleine Hardy
nasceu em Paris em 1944.
No ano passado, a revista Rolling Stone incluiu Françoise Hardy na lista dos
200 maiores cantores de todos os tempos.
1 thoughts on “Música”
Milú Almeida
Tema amoroso e importante, descrito de uma forma simples que nos embala a todos, pois que muitos de nós se revêem nestas memórias.
Tema amoroso e importante, descrito de uma forma simples que nos embala a todos, pois que muitos de nós se revêem nestas memórias.