Portugal em chamas: a dança das labaredas

Portugal em chamas: a dança das labaredas

– Artur Sousa

A língua de fogo serpenteia as colinas e os vales em busca de alimento.

Anuncia-se, apruma-se e move-se exibindo toda a sua força. Destrói, por vezes mata, vai-se embora conforme veio. É insaciável no apetite voraz.

A besta já se anunciava havia horas. Galgando colina após colina aproximava-se. Cai a noite.

O clarão que o anuncia parece ainda, estar lá, ao longe.

Na orla da mata, esperamos! De quando em vez embrenhamo-nos na Natureza numa espécie de jogo às escondidas. E no escuro da floresta, reina o silêncio, antes da mordida fatal. Surgem as estratégias, os planos de ação e assim vai-se atenuando o medo dos homens e das mulheres.

À nossa frente, eis uma pequena luz de cor vermelha. Surge como uma espécie de lampião a quebrar a escuridão propiciada pelo arvoredo.

É o batedor que se anuncia na iminente ameaça.

O monstro, chegou!

Preparam-se as “armas”, agitam-se os corpos, os sentidos ficam em alerta. O temor dá um sinal de si. Cada um, no seu silêncio, abafa o medo.

Ouve-se um crepitar que a todos atemoriza.

Vem-te ao pensamento talvez não estejas, não estejamos, à altura da besta. O silêncio dos corpos esconde o medo e na solidariedade das almas, sabes não estar só.

O clarão carregado de cor, antes apenas uma mancha avermelhada e à distância, anuncia-se à tua, à nossa, frente. O vento ruge. A combustão faz-se no crepitar arrepiador. As labaredas parecem querer alcançar as estrelas. O cenário ilumina-se.

É o inferno, não celeste, mas terreno!

A pequenez dos Homens a granjear a coragem para o frente a frente com o monstro.

A temperatura aumenta vertiginosamente, os vórtices projetam a frente de fogo. Uma chuva de faúlas inunda a tridimensionalidade a ofuscar a visão e a iluminar de cor e brilho o cenário da guerra.

Uns desesperam, outros correm freneticamente, alguns mantêm a frieza mental.

São poucos os minutos de permanência do monstro. Se lhe fazes frente ele encrespa-se. Na dificuldade em lamber todo o alimento, o manhoso, circunda e vai em busca de nova presa.

Se desistes, ele tudo consumirá!

Para trás deixa a marca da sua raiva. A negridão na paisagem, o ar empestado, a Natureza morta!

Para uns o alívio, outros o desânimo da perda.

Conforme veio, assim vai à procura de outras almas.

E tal como Ulisses usou a inteligência, a força e a manha para derrotar o ciclope, outros Homens dentro de poucas horas irão dar a estocada final no monstro que a tudo devora.

Estranha noite!

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